DESTAQUE: Junta de Freguesia de Ribeira Chã adquire obras do Festa Redonda para nova sede. Ver Iniciativas
Aceitamos propostas de projectos na área da Escultura e Cinema.

O Festival Festa Redonda, que decorrerá nas nove ilhas dos Açores, arrancou no dia 25 de Outubro de 2007 e irá prolongar-se durante dezoito meses até Abril de 2009.

O evento, cujo nome presta homenagem ao escritor açoriano Vitorino Nemésio que escreveu “Festa Redonda, Décimas e Cantigas de Terreiro Oferecidas ao Povo da Ilha Terceira” (1950), pretende facilitar o acesso de algumas franjas da população açoriana mais votadas ao isolamento a várias formas de cultura, contribuir para o desenvolvimento do potencial turístico das ilhas do arquipélago e divulgar jovens valores em nove áreas de criação artística distintas.

As mostras de Arquitectura/Design, Cinema, Dança, Escultura, Fotografia, Literatura, Música, Pintura e Teatro vão correr os Açores durante ano e meio, numa lógica de festival itinerante. Cada Arte estará em cada ilha por um período máximo de dois meses.

Esta é uma iniciativa da Associação Cultural Festa Redonda, criada com um objectivo que ultrapassa a realização deste evento único: ajudar a desenvolver regiões e comunidades, através da Arte e da Cultura, levando a locais isolados artistas, programadores, agentes culturais e realizações culturais que, de outra forma, não seriam aí acessíveis.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

30 de Dezembro

Hoje há casamento. O Marco Paulo com a Carla, os mesmos que foram de urgência em Setembro num helicóptero militar para o Faial quando à Carla tinham rebentado as águas. Três dias depois nasceu a Clara. Hoje oficializam a ligação na Igreja e baptizam a filha. O Marco Paulo é irmão do Lugério que já tínhamos filmado a trabalhar na padaria. Ambos casaram com brasileiras chegadas ao Corvo faz um ano. A Internet estreita as distâncias e casam-se as necessidades. São os novos casais modernos. Não é só no Corvo, já vi o mesmo a acontecer um pouco por todo o lado. Gosto deles, destes irmãos, vizinhos de casa e de amores que já aparecem nas fotos do Jorge Barros em 1992, lado a lado na lavoura, olhar frontal e puro.


Gonçalo Tocha

29 de Dezembro

No Corvo vejo da minha janela a mudança dos ventos. Em frente estão a pista do aeroporto e a manga de vento que se levanta. Ontem parada, hoje espetada para Norte devido ao vento de Sudoeste. Num só dia tudo mudou: o mar encrespado, os pescadores em terra. No ginásio da escola os preparativos da festa de Ano Novo. Este ano, não há uma comissão de festas. Parece que a vila não está envolvida. O que poderia ser uma festa comum e partilhada a favor de todos transforma-se este ano num evento organizado por poucos com interesses particulares. Pouca gente na rua. Entramos no Centro de Convívio para filmar algumas fotos antigas. Lá dentro, 5 ou 6 anciões que já filmáramos em outras ocasiões. Silêncio. Já nos conhecem mas observam curiosos os nossos gestos. Sei que alguma coisa pode surgir dali. Mostro-lhes o relato das Naus Piratas que atacaram o Corvo no século XVII. É só o início, para se poder falar de outras coisas. Fixo o plano e deixo correr a imagem, meia hora onde se discute a vida. Conscientes e atentos, cáusticos e irónicos, enfrentam-nos. Ainda não sei como isto acontece em frente da câmara. Parece um túnel por onde entramos.


Gonçalo Tocha

28 de Dezembro

Por vezes acordo e não sei onde estou. Não reconheço os sons, a luz pela janela. A minha casa está entre a Igreja e o porto, na Rua da Matriz mas isso não quer dizer nada, os sonhos que tenho são sobre tudo o que não é desta ilha. Quando me habituar a dormir neste quarto já estarei de partida. Acho que, desde a doença da minha mãe, o meu sono é demasiado leve. Não durmo bem, profundamente acordado pelas motocultivadoras, as moto-quatro e os carros que enchem as ruas da vila.
Li há uns dias que um arquitecto em Lanzarote, enquanto protestava contra o tráfico desmesurado da sua ilha, foi morto por atropelamento. Não me cabe a mim ser mártir sem causa, mesmo que os carros aqui sejam bichos sem estrada para comer. Na Caparica quando acordo mal vou de mergulho no mar. Aqui desço o pontão do porto cheio de sol e mar bonançoso como é tão raro no Inverno. Todos os pescadores saíram para a pesca de barco e não nos avisaram como lhes tinha pedido. Ficamos em terra com a câmara enxuta. Dias destes são poucos, para uma pesca produtiva. Pena… Conto até dez e salto o pontão, cabeça primeiro, um arrepio pela espinha. A água está mais fria do que esperava.
Mais em cima, encontro o Dídio e os restos duma matança do porco. A carne é cortada em costeletas numa mesa de madeira ao sol fulminante sem nuvens. Na imagem é um brilho de sangue seco e quente. A morte já passou, agora é só bonito de tanto vermelho, as mãos e a carne, o suor e o liquido que escorre até à rua.

Gonçalo Tocha

27 de Dezembro

Hoje todo o dia no posto dos CTT. Em Agosto tinha sido impossível, faltava uma autorização oficial para filmar. Normalmente temos a ideia de que os correios só servem para enviar cartas e receber contas para pagar. Os Correios do Corvo servem para tudo: expedir encomendas volumosas, mercadoria, comida, material técnico, substituindo-se muitas vezes ao transporte marítimo e aéreo. E todos passam por lá, nem que seja para carregar telemóveis. No Corvo as casas não têm número na porta. Não é preciso, o carteiro Orlando sabe onde toda a gente vive. Basta o nome da pessoa e o nome da rua. Se o dia começou cinzento e com chuva, fez-se depois sol dourado e céu azul, quente a mais de 15 graus. Saímos na ronda da distribuição das cartas, rua acima, rua abaixo, o Orlando nosso actor, cúmplice dirigindo a acção, comentando os pormenores que encontrávamos. É isto que gosto: encontrar um tema central para nos podermos desviar do assunto. O fim do dia caía já no topo da vila e encontramos pessoas que nunca tinha visto, casas em que nunca tinha entrado, uma luz tão amarela na imagem que fazia sombras irreais no chão castanho e verde do musgo que se cria com a humidade. Penso que estava com uma exposição na câmara exagerada mas não a corrigi. Gosto dessa irrealidade. Um pouco conscientemente e este vai ser um filme cada vez mais centrado em objectos, pedaços de coisas, mãos, animais, vozes, água e verde. Pormenores que todos juntos poderão formar uma imagem.


Gonçalo Tocha

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

26 de Dezembro

Aqueles peixes minúsculos que vivem junto da costa andam em cardume e parece que se deixam apanhar de propósito, de onde eu venho chamam-se Janquizinhos, aqui são Chicharros. O Joca e o Pereira não se podem fazer ao mar, continua fresco e picado. Ficam no porto a apanhar chicharros. As nuvens estão cinzentas e em massa, de vez em quando raios da luz do sol criam cambiantes no morro das casas. O Dornier aterra por cima da vila. As gaivotas que tentam apanhar os restos de peixe substituem a ausência do Joca e do Pereira no porto. Já saíram. Uma hora mais tarde estamos a comer os chicharrinhos fritos. Uma delicia regada a vinho. Horas na conversa. Deixar passar o tempo. Hoje descansamos das seis cassetes filmadas durante o Natal.


Gonçalo Tocha


25 de Dezembro

O sol rasgou pela nuvens e a luz está doirada no mar visto da minha janela quando acordo. Poucas pessoas na rua. Desta vez moro perto da Igreja e quando lá chego vejo pastores e profetas, reis e rainhas, quase todos os miúdos da vila, a serem vestidos para o presépio vivo da missa de Natal. Não me parece que haja decréscimo da população no Corvo, muita gente a casar-se, muitos filhos a nascerem. Atrás da Igreja fica o Salão dos Bombeiros, lá prepara-se o Baile de Natal, para onde o Michael, mais uma vez, levou o seu material de som. Já vínhamos preparados para que isto pudesse acontecer e portanto trouxemos o Mestre teclado Acácio connosco. “Já têm algum conjunto para animar o baile?” Sendo assim eu e o Dídio mudamos para TOCHAPESTANA, o maravilhoso baile popular pela primeira vez no Corvo com dois convidados da terra, o Michael nas teclas e a Andreia na voz. É um risco previsto, assumido, e potencialmente catastrófico: cantar música pimba futurista quando se está a fazer um filme.

Gonçalo Tocha

24 de Dezembro

Vamos passar a noite de Natal fora de casa e da família. Aqui e agora é a sensação de ser adoptado. Gostaríamos de estar em todo lado, perceber o que significa esta data para pessoas tão diferentes como as famílias numerosas do Corvo, os homens que se exilaram nesta ilha ou aqueles que vivem sozinhos. Somos convidados para jantar com a família Pereira. Saímos pelas nove e meia, distribuímos os presentes simbólicos que destinámos a algumas pessoas. Ruas desertas, casas iluminadas, algumas casas vazias. Lá dentro o que se passará? É triste perdermos tanta coisa, ou melhor, não ver tanta coisa.
Depois da missa do Galo, com a Maria, o José e o menino Jesus em carne e osso, levam-nos de casa em casa, o Natal de porta em porta a apanhar os restos da noite, somos dez ou doze, vinte e tais anos, tipo Rave na noite, copo sim, copo sim, acordam-nos para nos receber, casas e pessoas do Corvo que nunca tinha visto antes. Estou tão bêbado quanto eles e por isso continuo a filmar.

Gonçalo Tocha

23 de Dezembro

O que é o Natal? Como se filma o Natal? São as lojas, carregadas de brinquedos e roupa, bugigangas e outras coisas que nunca usamos. Aqui não há centros comerciais, não há grandes superfícies, as compras para a ceia são feitas nas mercearias, as prendas nas lojas de variedades. À entrada, um anúncio para apoiar o comércio tradicional, mas no Corvo só há comércio tradicional. Isso torna o consumo muito mais próximo e familiar, dá para conversar, mas não deixa de ser consumo exagerado que a época obriga. Prendas e lixo. Tudo isto quase que não está no filme. São as coisas que perdemos. Na nossa peregrinação pelas lojas nas vésperas de natal, falhávamos sempre as horas fortes. “Deveriam ter chegado mais cedo, há duas horas atrás nem se podia entrar…”
O Corvo pode parecer pequeno, mas como em todo o lugar do mundo, há muita coisa que se passa em simultâneo.

Gonçalo Tocha

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Santa Maria


Vila do Porto
Em parceria com a Associação Cultural Artes em Trânsito e com o apoio da Câmara Municipal de Vila do Porto

Escultura
8 de Março a 20 de Abril de 2008

Sentir o Azul
Isabel Sousa Carvalho
Na Igreja de Nossa Srª das Vitórias (junto ao Jardim Municipal)

O Mandacaru Pede Passagem
Clênio Bolson
Na Igreja de Nossa Srª das Vitórias (junto ao Jardim Municipal)

(O)pressão
Paulo Moura
Na Igreja de Nossa Srª das Vitórias (junto ao Jardim Municipal)

Ela na Praia
Leonor Pêgo
Na Igreja de Nossa Srª das Vitórias (junto ao Jardim Municipal)

Aos Avós
Leonor Pêgo
No Jardim Municipal

Mulher de Ferro
Leonor Pêgo
Na Rotunda do Aeroporto

Torre de Vígia
Leonor Pêgo
No Cais de Vila do Porto

Palestra sobre o tema Cerâmica Raku, por Isabel Sousa Carvalho
8 de Março, às 16 horas

Inauguração das exposições
8 de Março, às 17 horas

Cinema
De 24 de Maio a 7 de Junho

Dia 24 de Maio*
C-Mail, Quando o Correio Chega, de Filipe Araújo
Selvagens: A Última Fronteira, de Filipe Araújo
Auditório da NAV, 21h30

* Com presença do realizador

31 de Maio
Balaou, de Gonçalo Tocha
Auditório da NAV, 21h30

7 de Junho
A Ilha da Montanha, de Júlio Barata e Teresa Perdigão
Auditório da NAV, 21h30

Faial

Horta

Teatro

27 de Dezembro de 2007 a 21 de Fevereiro de 2008

A programar

22 de Dezembro

Começo a sentir o investimento da nossa volta. Os olhares são diferentes, as portas de casa já se abrem, as conversas prolongam-se. Continuamos curiosos de tudo, disponíveis para todos. Mas é um fino limite, uma corda bamba. A claustrofobia de todos sobre a vida dos outros. Um passo em falso e tudo isto pode tornar-se um inferno social. Mas há fascínio e vicio nesta concentração do olhar: o dizer bom dia a todos com quem nos cruzamos, a economia de estímulos exteriores, a certeza do que vai acontecer no dia-a-dia. Aqui tenho tempo e espaço para pensar, aqui posso continuar a procurar.
Hoje colocámos à prova a nossa técnica das imagens filmadas comentadas. Tentar devolver o olhar do assunto que filmo a quem o vê todos os dias. Não falar sobre a imagem real, mas da nossa imagem construída sobre o real. É este dispositivo que pode permitir uma reflexão orgânica vinda de dentro e não um registo de factos jornalísticos.
Assim que coloquei o Joca e o Pereira em frente do monitor sabia que estávamos a passar para outra fase do projecto. Como romper o gelo e entrar na água dentro da superfície.

Gonçalo Tocha

21 de Dezembro

Sentir o cheiro da Aerogare e procurar no céu a vinda do Dornier, os horários mutáveis e flexíveis de quem parte e quem chega, quem se despede e quem espera. Hoje partiram alguns trabalhadores para Lisboa. Ao todo no Corvo são mais de quarenta, cabo-verdianos, são-tomenses, ucranianos… Trabalham nas obras do novo parque infantil, na reconstrução da biblioteca, na construção das vivendas novas na parte nova da vila, nas estradas abertas para os campos lá em cima. Uns partem para passar o Natal em família, nós passamo-lo longe. Aqui também não o sentimos muito, só nas iluminações psicadélicas das casas e ruas, só nas quatro ou cinco lojas que vendem tudo, dos presentes que todos já conhecem aos souvenirs dos imigrantes. Há consumo como em todo o lado, mas mais localizado e familiar. Se houvessem centros comerciais todos iam aos centros comerciais. Mas não há e é um alívio para a sanidade mental. O tempo escorre, aqui é mais claro que as datas especiais são meros pontos no nosso calendário contínuo.

Gonçalo Tocha


20 de Dezembro

Integrada na programação do Festival Festa Redonda a exibição do Balaou no Corvo já estava planeada. Com a nossa presença aqui torna-se essencial para que possam saber um pouco do que fizéramos antes. Do dia 19 passa-se para o dia 20 Dezembro, o Michael (quem fornecia o material de som) lembrou-se que afinal nesse dia havia um ensaio do coro da missa de Natal. Contingências maravilhosas e facilidades de programação, altera-se de repente a data e toda a gente fica a saber. O passa a palavra funciona aqui melhor do que em qualquer lado. Ao salão dos bombeiros chegam 30 a 40 pessoas, 10% da população. A meio do filme veio ter comigo um homem das Flores, antigo baleeiro, pai do Amândio que vive no Corvo, e diz-me que conheceu o homem do barco-ovo de quem fala o Beru no filme. Isto passou-se há cerca de 40 anos atrás e jura-me que até tem fotografias dele. “Um homem enorme que chegou todo dobrado. Não conseguia andar depois de uma viagem de semanas dentro de um barco à vela minúsculo.” Coincidência ou acaso deste homem ter vindo ter comigo, é verdade que nesta projecção os dois filmes se fundem. De um passo para o outro. Milagre ou banalidade o Beru e a Florence há dois anos e meio, vindo das Flores, encontraram-me e mudaram-me o destino. Da Vila do Corvo só se vê as Ilha das Flores e das Flores a melhor vista que se tem é o Corvo…

Gonçalo Tocha


19 de Dezembro

Chegamos ao Corvo num dia cheio de luz e calma depois da tempestade. Só agora sei a falta que isto me faz, o voltar a uma terra conhecida e perceber o que já se criou. Para o bem e para o mal, jogamo-nos aqui dia a dia. Continuo a achar que estamos no meio de uma micro-sociedade protegida pela geografia.
O vento passou mas deixou as correntes do mar. Estas vagas enormes que ultrapassam o pontão do porto, saltam por cima e se desfazem em espuma, à luz de um sol três horas da tarde atrás das nuvens. Só ouço dizer "isto não é nada, já vi muito maior". E muito maior saltam depois, num movimento repentino, filmo de muito perto, desço as rochas, faço zoom e entro dentro da onda até cair em vertigem. Os barcos não aguentam, a vila protege-se com a falésia que leva porrada todo o Inverno. Hoje foi só isto e o que o mar transporta para terra, plásticos e madeira entre as rochas, misturado com o lixo das casas mesmo por cima. Uma ilha sem abrigo seguro. Uma imagem de um barco parado no meio do Atlântico. O resto é tudo igual a todo o lado.

Gonçalo Tocha

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A Lei dos Outros


Num quintal velho e abandonado, ALEX, um jovem rebelde e perturbador da paz, acorda de madrugada sem se lembrar nada do que se passara na noite anterior. Ao entrar na cave, encontra um polícia amarrado e espancado. Perplexo com aquela situação, ALEX tenta descobrir como a noite chegou àquele ponto. No entanto, os seus dois melhores amigos, VESPA e JUCA, não mostram vontade de querer pôr a verdade totalmente a descoberto, e parecem estar unidos no desejo de matar o polícia que tanto os atormentou toda a vida. À medida que o dia vai nascendo e a lucidez de ALEX vai regenerando, as memórias retornam como pedaços estilhaçados que tentam encontrar um todo racional. No fim, ALEX, que queria tomar a decisão mais acertada, descobre que a verdadeira razão pelo qual espancaram o SUBCHEFE LACERDA, foi por este ter chegado ao pico da sua malvadez ao violar a namorada do jovem ALEX. A sede de vingança toma posse do rapaz, e LACERDA vai fazer tudo por tudo para tentar deturpar a mente dos 3 rapazes e salvar a sua pele suja.


Um filme de Tiago Carvalho
Elenco: Marcontonio Del Carlo, Ian Velloza, Nuno Vinagre, Ramon Martinez, Inês Castel-Branco e Miguel Menezes

Ver biografia de Tiago Carvalho


Tiago Carvalho


Nasceu a 26 de Novembro de 1981. Começou a “brincar aos filmes” com a camera de um amigo desde os 10 anos, e teve um ensino secundário especializado em Cine-Video na Escola de Artes António Arroio. Assim acabou por entrar na Escola Superior de Cinema com uma noção bastante sólida de como contar uma história através duma camera. Depois de finalizar o bacharelato afirmou-se de imediato como realizador na área dos videoclips tendo como últimos projectos em evidência a curta A Lei dos Outros, The Way of the Sword, O Monstro Precisa de Amigos (pós-produção) e a sua primeira longa-metragem The Fear Session (pré-produção). Está actualmente a finalizar a sua licenciatura na Universidade Federal Fluminense (Rio de Janeiro).

Lisboa e Faial, 18 Dezembro

Em Lisboa a Sofia encontrou-nos. Já a conhecêramos em Agosto. Ela é do Corvo mas estuda em Lisboa. Está aliviada por viajar connosco. Não gosta de aviões, de andar no ar, ainda menos no Dornier, escaldada por tantos sustos, principalmente no Inverno. Está nervosa, tentamos acalmá-la, nós que estamos prontos para sofrer um revés, de sentir o que é tentar chegar ao Corvo e não conseguir.
Cheios de material às costas e imagens anteriores, encontrámos o sentido da espera: acompanhá-la nas suas apreensões. Ela tem dentro de si a experiência física da viagem, o salto geográfico por cima do mar.
E já no segundo dia de voo cancelado, no segundo dia de tempestade, no segundo dia de espera, lembro-me do Beru (do barco Balaou) a dizer que não se pode ir contra a vontade da natureza, que vamos sofrer se a tentarmos enfrentar. Estamos calmos e aceitamos mas penso que é diferente para quem tem família do outro lado e parte da sua terra e origem a chamar-lhe para voltar.
Por enquanto, da janela do nosso quarto, olhamos para o topo do Pico tão perto e não tenho vontade de o subir. O mundo é uma cabeça habitada pela Ilha do Corvo.

Gonçalo Tocha

Lisboa e Faial, 17 Dezembro

É este o motivo do nosso regresso. O Inverno. E ele abre-se em toda a sua força, embrulhado em ventos múltiplos e diagonais, cruzado em chuvadas curtas e levantado no mar encrespado.
Chegámos ao Faial na segunda-feira para apanhar o voo de ligação para Corvo mas o pequeno Dornier não apareceu. Ainda levantou na Terceira mas já perto da pista da Horta levou com rajadas de vento no nariz e teve de voltar para trás. Estamos parados no Faial.
Voo cancelado. Não foi o único. Em toda a região, um pouco assim.
É o círculo do arquipélago. Já não é só a sua beleza natural e paisagística (e por enquanto conservada) o que ainda e sempre me surpreende, são os seus temperamentos meteorológicos, este movimento puro de ventos e marés, nuvens, nuvens, sempre nuvens em deslocamento.

Gonçalo Tocha

Daqui Oceano Atlântico, Ilha do Corvo" - Diários de um filme


O relato da experiência nos Açores a propósito da realização de um documentário sobre o Corvo, no âmbito da iniciativa "9 ilhas, 9 documentários", por Gonçalo Tocha e Dídio Pestana.

17 de Dezembro
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20 de Dezembro
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segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A Frente pela Antecipação do Grande Terramoto.

A FAGTL foi refundada a 1 de Novembro de 2005, no âmbito do aniversário do grande terramoto de Lisboa (1755). O movimento histórico que reclama uma nova e ainda maior réplica do mesmo, no qual a FAGTL se inclui, começou logo no dia 2 de Novembro de 1755 assim que os lisboetas se aperceberam da reconstrução que estava a ser erigida.
O grupo tem mais de mil simpatizantes. Entre estes há gente de diferentes formações: de marceneiros a doutorados em geofisica tectónica.
"Defendemos um grande terramoto mas não podemos, claro, ser responsaveis por ele e o paradoxo da nossa organização reside nisso mesmo", explica João Silva, secretário-geral da FAGTL. "Um grande terramoto. Um total reset da cidade. A mudança que queremos é total, completa e definitiva do paradigma urbano. Se compreendermos a incapacidade humana para o fazer com a distancia necessária temos que deixar tal tarefa nas mãos da natureza e daí o grande terramoto", continua o engenheiro informático.
Apesar da polémica causa, o número de simpatizantes da FAGTL tem vindo a crescer, sobretudo na Área Metropolitana de Lisboa. Ao que parece, muita gente partilha a ideia de que a cidade, que recentemente sufragou novo presidente da Câmara em eleições intercalares, precisa de um "abanão".

Urbanismo selvagem em discussão


A Frente pela Antecipação do Grande Terramoto de Lisboa vai estar presente no Festa Redonda com um conjunto de conferências subordinadas ao tema geral do urbanismo selvagem e desenfreado.
Os Açores estão entre os assuntos a discutir. Nas intervenções, em cada ilha dos Açores, a FAGTL estará sempre representada por quatro dos seus elementos. Estas apresentações prometem ser dinâmicas e privilegiar a interacção com o público.
João Silva é secretário-geral da FAGTL e o principal rosto desta organização criada a 1 de Novembro de 2005 (o mesmo dia em que, em 1755, ocorreu o Grande Terramoto de Lisboa) e que reúne cerca de 500 pessoas, entre militantes e simpatizantes.

Saber mais sobre a FAGTL