O marido da Senhora Inês é carpinteiro e abriu-nos o seu atelier. Nos dias de hoje só faz as típicas fechaduras de madeira do Corvo, mas em miniatura para vender aos turistas. “Para que serviam as fechaduras se no Corvo não havia ladrões?”. A senhora Inês sabe que estamos ali e vem ter connosco para continuar o barrete. Já se lê: “Corvo 2008 Gonçalo”. Os dois trabalham, não faço perguntas. Bonito o sol a entrar pela janela inundando a mesa do carpinteiro. Lascas de madeira no chão, os olhos meio suados, caixas com batatas, um moedor de milho, bidões de cartão. “Sempre que filmam o Corvo vêm aqui filmar-nos.” São os últimos artesãos, deixando descendência na sua filha Rosa. Não é por serem os últimos, mas por darem espaço à concentração e à paciência, por terem mãos calejadas e olhos que já viram muito. A senhora Inês tem de ir. Pó de madeira pelo ar, parecem fagulhas com a luz da janela, ele liga o rádio, a previsão do tempo, rock n´roll e chamaritas.
O Festival Festa Redonda, que decorrerá nas nove ilhas dos Açores, arrancou no dia 25 de Outubro de 2007 e irá prolongar-se durante dezoito meses até Abril de 2009.
O evento, cujo nome presta homenagem ao escritor açoriano Vitorino Nemésio que escreveu “Festa Redonda, Décimas e Cantigas de Terreiro Oferecidas ao Povo da Ilha Terceira” (1950), pretende facilitar o acesso de algumas franjas da população açoriana mais votadas ao isolamento a várias formas de cultura, contribuir para o desenvolvimento do potencial turístico das ilhas do arquipélago e divulgar jovens valores em nove áreas de criação artística distintas.
As mostras de Arquitectura/Design, Cinema, Dança, Escultura, Fotografia, Literatura, Música, Pintura e Teatro vão correr os Açores durante ano e meio, numa lógica de festival itinerante. Cada Arte estará em cada ilha por um período máximo de dois meses.
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