Estes ciclos de viagens, destinados, sobretudo, às mais pequenas ilhas dos Açores, com actividades e ocupações bem definidas e adaptadas às características de cada uma delas, e que começam já nos primeiros dias de Setembro no Corvo, têm como objectivo, segundo Teresa Pinto Gouveia, comissária do festival, “promover o turismo reflexivo e contemplativo, atento à maneira de ser, aos hábitos, à idiossincrasia, às tradições e à cultura dos açorianos e, por outro lado, promover experiências e sensações mais radicais ligadas à situação geográfica, climática e meteorológica das ilhas açorianas mais pequenas e isoladas.”
No caso deste 1º ciclo, respeitante ao Corvo, a pequena, distante e isolada ilha, situada no grupo Ocidental dos Açores, afastada de tudo e de todos, frente ao Canal da América e assente já na placa tectónica e geológica do Novo Mundo, é, refere Teresa Pinto Gouveia, “um caso único de singularidade social, antropológica e cultural na Europa, para além de ser uma das últimas reservas de património natural e cultural da humanidade.”
Trata-se, segundo a responsável do festival, de aproveitar as características muito específicas da ilha do Corvo – como a sua situação geográfica (
No caso do Corvo, trata-se de encarar o isolamento absoluto (olhado tradicionalmente nos Açores como factor negativo e adverso ao desenvolvimento do turismo) como factor positivo e uma mais-valia para o sector. “Mais: - refere a comissária – o isolamento é, mesmo, a palavra-chave, o santo e a senha deste conceito. Sem o isolamento radical do Corvo não seria possível explorar este nicho de mercado”.
Neste sentido, explica, o isolamento deverá ser visto sob duas perspectivas: por um lado, um isolamento místico, contemplativo, quase metafísico, de comunhão e interacção com a natureza e com os seus elementos (a solidão da ilha, o mar, o céu sem horizonte físico, a composição geológica da ilha), factores que apelam à contemplação, à reflexão, à leitura, à audição de música, à meditação, à paz, à calma; por outro lado, um isolamento mais activo, de aventura, quase selvagem e que está ligado ao mau tempo e às intempéries que se fazem sentir de inverno na ilha: as tempestades subtropicais que assolam aquela zona do atlântico, com as fortes chuvas e os ventos ciclónicos; os ciclones; o cancelamento do pequeno avião que escala a ilha e das ligações marítimas com a ilha das Flores (no caso destas, pode chegar a vários dias ou semanas); a escassez de alimentos; a falta de correio; a falta de medicamentos no centro de saúde; a evacuação de um doente ou de um tripulante de um iate pelo helicóptero da Força Aérea Portuguesa – enfim, são tudo grandes aventuras e experiências radicais que, só o forte isolamento de uma ilha perdida nos confins do Atlântico, propiciam.”
E se estes factores são, compreensivelmente, negativos para a população do Corvo, não o são, necessariamente (pelo contrário), para turistas aventureiros ávidos de experiências radicais. Por exemplo, refere, “borregar (abortar a aterragem), devido aos fortes ventos, no minúsculo aeródromo da ilha do Corvo no pequeno Dornier da Sata (dentro dos limites de segurança, claro, como é boa prática dos excelentes pilotos da transportadora aérea regional) pode ser transformado num acontecimento positivo e numa experiência única para um turista que vem ao Corvo à procura de novas experiências e sensações; ou, então, assistir (podendo até filmar, gravar ou fotografar), no miradouro do Portão, à chegada de uma tempestade subtropical (e sentir a ilha como uma concha perdida no vasto Atlântico), pode ser tão entusiasmante e rico como, por exemplo, fazer parapente nos Pirinéus, esquiar nos Alpes, escalar os Himalaias, explorar a selva amazónica no Brasil, fazer o circuito dos Incas no Peru ou um safari na Tanzânia.”
Enfim, aventuras numa ilha que vêm acordar boas fantasias que povoam o nosso imaginário colectivo desde a infância e só possíveis graças, por exemplo, ao génio de escritores como Hemingway, Enid Blyton, Salgari ou Stevenson.
A exuberante paisagem natural da ilha (o Caldeirão, a Ponta do Marco, o miradouro do Portão, os moinhos de vento na costa sul, Vila Nova do Corvo, as Covas de Junça e todas as outras belezas patrimoniais e paisagísticas); o singular retrato humano (autêntico “laboratório” antropológico); a história da sua descoberta e povoamento; as tradições transmitidas por via da oralidade dos mais idosos (as famosas lendas do Corvo como a da Estátua Equestre da ilha do Marco); a arte (escultura flamenga de Malines) e o património religioso (o templo paroquial de 1795 e a devoção à Senhora dos Milagres, padroeira da ilha, cuja imagem remonta ao séc. XVI, assim como a devoção ao Divino Espírito Santo); as festas profanas com toda a sua panóplia de tensões sociais; a gastronomia (as Couves da Barça, as Couves Fritas, as tortas de Erva do Calhau, o Molho de Fígado); o aproveitamento dos recursos do excelente mar que envolve o Corvo (o mergulho subaquático nas águas límpidas e translúcidas que permite conhecer os fundos marinhos da ilha e espécies piscícolas raras ou, ainda, a experiência da pesca artesanal e a observação de golfinhos e de baleias levadas a feito com a colaboração de pescadores locais), o desporto de aventura (parapente e wind-surf), enfim, são tudo vertentes a desenvolver nestes programas turísticos.
Por último, estas viagens à ilha do Corvo, concebidas para pequenos grupos de turistas com um máximo de 10 pessoas por um períodos de 7 dias, sempre acompanhados de um guia, irão permitir ainda aos visitantes do Corvo o contacto directo com os artistas e com as obras de arte que estarão patentes ao público durante os 18 meses do Festival Festa Redonda (Out.
A organização do festival estima que esta iniciativa, depois de devidamente lançada e publicitada nos mercados nacional e internacional, traga à ilha do Corvo cerca de 1 milhar de novos turistas por ano, com uma ocupação total da capacidade hoteleira da ilha de inverno e de verão.
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