O Festival Festa Redonda 9 ilhas, 9 artes vai distribuir um cabaz de cultura pelas 150 famílias da ilha do Corvo, constituído por livros, cds e dvds.
Para a iniciativa, intitulada 1 família do Corvo, 1 cabaz de cultura, concorre a oferta de diversas instituições regionais e nacionais, tais como de editoras, discotecas, autarquias, universidades, fundações e diversas outras instituições públicas e privadas.
Segundo a anterior Comissária do festival, Raquel Mendes Matos, “pretende-se com esta iniciativa do cabaz de cultura reforçar a presença do evento na mais pequena ilha do arquipélago açoriano, onde a oferta cultural é mínima, chamando a atenção do país para a ausência de equipamentos, bens e iniciativas culturais na mais pequena ilha dos Açores.”
“A situação excepcional de extremo isolamento e ultraperiferia da ilha do Corvo reclama uma discriminação positiva, não só política, mas também de oferta cultural, por parte dos governos dos Açores, da República e da União Europeia”, afirma a Comissária. E acrescenta: “O isolamento do Corvo não é só físico, material e geográfico, mas é, ainda, e talvez, sobretudo, cultural e comunicacional”. E prossegue: “O Festival Festa Redonda serve também para isso, para lembrar ao país e ao mundo que a ilha do Corvo é um caso singular de isolamento na Europa. A população do Corvo e os políticos da ilha, nomeadamente os seus autarcas, precisam de um sinal positivo, de um sinal de esperança que venha do exterior e que lhes diga, com acções e obras, que eles não estão sozinhos. Neste sentido, a cultura e a arte são um forte traço de união. E é isso o que o festival pretende – estender as mãos ao Corvo e ajudar os corvinos a saírem um pouco do seu isolamento.”
Neste sentido, a responsável chama a atenção para diversas contingências da mais pequena ilha do arquipélago açoriano e recorda que “no Inverno não há, sequer, ligações marítimas regulares com o Corvo. As únicas ligações regulares são por via aérea, três vezes por semana, num pequeno avião da Sata Air Açores, mas, não raras vezes, por causa do mau tempo, o aparelho não opera, sendo canceladas as viagens durante vários dias. A ilha do Corvo fica, então, completamente isolada da região e do mundo. Isso afecta a circulação de pessoas e bens, como o normal fornecimento de bens essenciais à ilha, combustíveis, correio e medicamentos para o Centro de Saúde ou, mais grave, a evacuação de doentes. Mas não somos os únicos, nem sequer os primeiros, a chamar a atenção para estas contingências. Por exemplo, o antigo Presidente da República, Mário Soares, em 1989, na sua Presidência Aberta aos Açores, pernoitou na ilha com uma comitiva de jornalistas exactamente para chamar a atenção do país para o isolamento ancestral do Corvo.”
Raquel Mendes Matos lembra ainda que, para além das comunicações por telefone, telemóvel, internet ou por satélite, e do serviço público da RDP/Açores e da RTP/Açores, não existem quaisquer outros órgãos de comunicação social, nem equipamentos culturais no Corvo – para além da biblioteca municipal, actualmente em obras de restauro: “Não existem jornais, rádios locais, livrarias, discotecas, teatros, cinemas, nem sequer uma papelaria ou um simples quiosque de venda de jornais”, lembra. Raquel Mendes Matos, realça, porém o papel desenvolvido pela Câmara Municipal do Corvo e pela Paróquia de Nossa Senhora dos Milagres “num esforço titânico de minimizar a falta de equipamentos e de eventos culturais na ilha”, como é o caso da actual reconstrução da biblioteca municipal que se encontrava degradada há vários anos, levada, agora, a cabo pela autarquia.
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