Começo a sentir o investimento da nossa volta. Os olhares são diferentes, as portas de casa já se abrem, as conversas prolongam-se. Continuamos curiosos de tudo, disponíveis para todos. Mas é um fino limite, uma corda bamba. A claustrofobia de todos sobre a vida dos outros. Um passo em falso e tudo isto pode tornar-se um inferno social. Mas há fascínio e vicio nesta concentração do olhar: o dizer bom dia a todos com quem nos cruzamos, a economia de estímulos exteriores, a certeza do que vai acontecer no dia-a-dia. Aqui tenho tempo e espaço para pensar, aqui posso continuar a procurar.
Hoje colocámos à prova a nossa técnica das imagens filmadas comentadas. Tentar devolver o olhar do assunto que filmo a quem o vê todos os dias. Não falar sobre a imagem real, mas da nossa imagem construída sobre o real. É este dispositivo que pode permitir uma reflexão orgânica vinda de dentro e não um registo de factos jornalísticos.Assim que coloquei o Joca e o Pereira em frente do monitor sabia que estávamos a passar para outra fase do projecto. Como romper o gelo e entrar na água dentro da superfície.
Gonçalo Tocha
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