DESTAQUE: Junta de Freguesia de Ribeira Chã adquire obras do Festa Redonda para nova sede. Ver Iniciativas
Aceitamos propostas de projectos na área da Escultura e Cinema.

O Festival Festa Redonda, que decorrerá nas nove ilhas dos Açores, arrancou no dia 25 de Outubro de 2007 e irá prolongar-se durante dezoito meses até Abril de 2009.

O evento, cujo nome presta homenagem ao escritor açoriano Vitorino Nemésio que escreveu “Festa Redonda, Décimas e Cantigas de Terreiro Oferecidas ao Povo da Ilha Terceira” (1950), pretende facilitar o acesso de algumas franjas da população açoriana mais votadas ao isolamento a várias formas de cultura, contribuir para o desenvolvimento do potencial turístico das ilhas do arquipélago e divulgar jovens valores em nove áreas de criação artística distintas.

As mostras de Arquitectura/Design, Cinema, Dança, Escultura, Fotografia, Literatura, Música, Pintura e Teatro vão correr os Açores durante ano e meio, numa lógica de festival itinerante. Cada Arte estará em cada ilha por um período máximo de dois meses.

Esta é uma iniciativa da Associação Cultural Festa Redonda, criada com um objectivo que ultrapassa a realização deste evento único: ajudar a desenvolver regiões e comunidades, através da Arte e da Cultura, levando a locais isolados artistas, programadores, agentes culturais e realizações culturais que, de outra forma, não seriam aí acessíveis.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

10 de Janeiro

A linguiça era um dos pratos típicos do Corvo. Carne com gordura moída dentro da tripa. Trabalho de mulheres. Quase só de mulheres também é a promessa de rezar o rosário todos os dias em honra de Nossa Senhora dos Milagres. Promessa que vem dos tempos em que Nossa Senhora, dizem, protegeu os habitantes do Corvo contra os piratas. Aqui poucos falam disso, dos piratas, como se fosse sinal de marginalidade. Mas não, será um dos grandes feitos deste povo, o ter resistido a ataques e ter feito trocas comerciais quando as necessidades assim o pediam. Se o poder central ignorou esta ilha durante séculos, os vizinhos, “amigos” e parceiros comerciais vinham do mar, dos párias sem nação. O Corvo poderia ser visto como um país à parte. Os naufrágios junto à costa, acidentais ou provocados por fogueiras em terra, sempre deram madeira reutilizada, mercadoria recuperada. O que o mar levava, o mar trazia. Milagres naturais. O rosário é agora rezado só por seis ou sete pessoas, já com idade. A gente nova não o continua. Tudo leva a crer que em breve a promessa será quebrada. O rosário do Corvo é um ritual religioso mas de carácter pagão. É uma evocação popular, um chamamento colectivo fora do âmbito da Igreja. Dura uma hora, organiza-se em círculos, tem uma voz e um coro. É um hipnotismo, é um transe xamânico do povo, em vias de extinção.


Gonçalo Tocha

Nenhum comentário: