DESTAQUE: Junta de Freguesia de Ribeira Chã adquire obras do Festa Redonda para nova sede. Ver Iniciativas
Aceitamos propostas de projectos na área da Escultura e Cinema.

O Festival Festa Redonda, que decorrerá nas nove ilhas dos Açores, arrancou no dia 25 de Outubro de 2007 e irá prolongar-se durante dezoito meses até Abril de 2009.

O evento, cujo nome presta homenagem ao escritor açoriano Vitorino Nemésio que escreveu “Festa Redonda, Décimas e Cantigas de Terreiro Oferecidas ao Povo da Ilha Terceira” (1950), pretende facilitar o acesso de algumas franjas da população açoriana mais votadas ao isolamento a várias formas de cultura, contribuir para o desenvolvimento do potencial turístico das ilhas do arquipélago e divulgar jovens valores em nove áreas de criação artística distintas.

As mostras de Arquitectura/Design, Cinema, Dança, Escultura, Fotografia, Literatura, Música, Pintura e Teatro vão correr os Açores durante ano e meio, numa lógica de festival itinerante. Cada Arte estará em cada ilha por um período máximo de dois meses.

Esta é uma iniciativa da Associação Cultural Festa Redonda, criada com um objectivo que ultrapassa a realização deste evento único: ajudar a desenvolver regiões e comunidades, através da Arte e da Cultura, levando a locais isolados artistas, programadores, agentes culturais e realizações culturais que, de outra forma, não seriam aí acessíveis.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

8 de Janeiro

Fiquei enjoado sem nada acontecer, só de imaginar uma morte próxima. Nesta manhã fria e enevoada três porcos espreitavam pelo curral, o portão de madeira meio comido, a mesa rasa de tábuas posta, as facas afiadas e os alguidares. Lembro-me das idas aos médicos, quando vejo as agulhas e cheiro o éter. É algo que vai acontecer. Mais tarde, quando os porcos chegavam, um a um, guiados pelas couves e o engodo, tudo passou, nem os guinchos, nem o furo na garganta, nem o rio vermelho de sangue, nem o esventrar me fizeram arrepiar. Olho pelo orifício da câmara e é tudo um filme na minha cabeça. Estou preocupado com a luz, o enquadramento, a posição justa perante as coisas. Para mim, o porco, neste momento, mistura-se com os homens e têm o mesmo sangue. Comemos nós e somos comidos. Os cães apanham os pedaços de gordura no chão, as gaivotas gritam e esperam pelo seu naco. Quero acompanhar este processo de uma coisa viva e inteira se transformar em pedaços mortos e arrumados. Já há matadouro no Corvo mas a matança tradicional do porco repete-se aqui como em muitas zonas de Portugal. Tenho mais respeito por isto do que qualquer matança industrial e massificada. Ainda houve restos de comunitarismo, muitos homens ajudaram, várias mulheres prepararam o sangue e as tripas para as morcelas. Acaba o dia e já não há porco, o curral vazio, as arcas e as panelas cheias, o sangue pelo esgoto. Em breve há mais.

Gonçalo Tocha

Nenhum comentário: