É o último dia do Dídio no Corvo. Desde que aqui chegámos, esperámos durante um mês para ir à pesca e não o conseguimos fazer. É hoje ou nunca. Já durante a noite o mar abrandara, mas esta manhã o vento não pára de mudar de direcção. A chuva vai caindo, mas fraca. Uma decisão a tomar, podemos ir à pesca mas implica faltar a toda a festa final de Santo Antão, o padroeiro dos lavradores e do gado. A caravana de carros até lá a cima ao Caldeirão, o benzer dos campos. O ciclo do gado já tinha sido fechado e continuava a faltar-nos a pesca do Cherne. O barco de madeira e uma roldana com linha de pesca e dezenas de anzóis. Dá-se à manivela e a linha desce a mais de 150 braças. O Cherne, peixe de águas profundas, é um desafio para qualquer pescador, vale dinheiro e emoção. O mar aguenta-se mas levanta-se por vezes fresco, o barco balança. A luz rompe pela chuva miúda e um arco-íris coloca-se por cima da ilha. A roldana continua a rodar, por enquanto só goraz. Nada de cherne. A luz flutua, magnífica, parece-se com o amarelo-torrado durante o embarque de gado no porto da casa. O barco do Pereira passa perto, o sol coloca-se junto da linha do mar, o dia cai e a roldana continua rodar. O Joca diz: há cherne! A água está límpida e consigo vê-lo por debaixo, boca aberta, anzol dentro. Está a meus pés, imóvel, grande e brilhante. Mesmo há cinco minutos estava a perto de
Gonçalo Tocha
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