DESTAQUE: Junta de Freguesia de Ribeira Chã adquire obras do Festa Redonda para nova sede. Ver Iniciativas
Aceitamos propostas de projectos na área da Escultura e Cinema.

O Festival Festa Redonda, que decorrerá nas nove ilhas dos Açores, arrancou no dia 25 de Outubro de 2007 e irá prolongar-se durante dezoito meses até Abril de 2009.

O evento, cujo nome presta homenagem ao escritor açoriano Vitorino Nemésio que escreveu “Festa Redonda, Décimas e Cantigas de Terreiro Oferecidas ao Povo da Ilha Terceira” (1950), pretende facilitar o acesso de algumas franjas da população açoriana mais votadas ao isolamento a várias formas de cultura, contribuir para o desenvolvimento do potencial turístico das ilhas do arquipélago e divulgar jovens valores em nove áreas de criação artística distintas.

As mostras de Arquitectura/Design, Cinema, Dança, Escultura, Fotografia, Literatura, Música, Pintura e Teatro vão correr os Açores durante ano e meio, numa lógica de festival itinerante. Cada Arte estará em cada ilha por um período máximo de dois meses.

Esta é uma iniciativa da Associação Cultural Festa Redonda, criada com um objectivo que ultrapassa a realização deste evento único: ajudar a desenvolver regiões e comunidades, através da Arte e da Cultura, levando a locais isolados artistas, programadores, agentes culturais e realizações culturais que, de outra forma, não seriam aí acessíveis.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

23 de Janeiro

De um lado para o outro, rua acima, rua abaixo com o tripé e a câmara ao ombro, na urgência da partida, entro na parte antiga da vila em cantos onde nunca tinha entrado. Aqui recolho alguns dos últimos planos, muros das casas velhas, canadas e pátios, eiras e currais. Tem alguma lógica ter deixado isto para o fim. Quando aqui chegámos maravilhámo-nos com a luz e a disposição das ruelas, a pedra antiga das casas já cheia de musgo, as janelas, as portas e as telhas da cor da fuligem. Mas sentimos uma certa resistência e pudor a este património. “Não filmem só as casas velhas, também temos casas grandes e modernas”. Como não queria ofender ninguém, lá fui filmar as novas casas, na parte nova da vila, enormes de cimento e varandas, jardim de relva cortada e ampla garagem. Filmei também as ruas abertas desta parte nova da vila, ganhas aos antigos campos de cultivo, e ainda todas as casas que se constroem, para os novos casais que se formam. É uma outra vivência da vila, é outro poder de compra, um maior poder de gasto. Antigamente eram as pessoas que construíam as suas próprias casas, agora existem trabalhadores de outros países. A arquitectura? É igual à casa do imigrante que volta. É igual a todo o lado. É óbvio que é necessário mudança, mas pergunto-me se para isso acontecer será sempre necessário apagar o que existe. Muitas das casas antigas do Corvo estão ao abandono e em ruína. Aqui reside um património muito rico em nada igual a qualquer outra das ilhas dos Açores. As casas têm semelhanças com algumas aldeias de Trás-os-Montes mas são diferentes porque são viradas para o Mar. Não é viver no arcaísmo mas sim dar valor ao que uma comunidade construiu ao longo dos séculos e tornou único. Mudança e modernismo podem passar muitas vezes por recuperar e reabilitar o que já existe.

Gonçalo Tocha

Nenhum comentário: