Poucos serviços nos restam, poucos dias nos sobram, a aventura Corvo aproxima-se do fim e isso aborrece-me. Quero acabar com esta sensação de estar sempre a perder. O que não filmo está perdido. E não quero sair porque voltar entristece-me, leva-me ao centro de onde vim e não me atrai andar às voltas de um só ponto. Os dias passam rápido mas todos diferentes. O Corvo é o símbolo do que o Beru diz no Balaou: “As notícias são sempre iguais mas a meteorologia muda todos os dias”. Não existem nuvens semelhantes, da mesma forma e da mesma cor. O vento espalha-as. Hoje, de repente, um “olho de boi” no céu, um vortex recortado de nuvens cinzentas sobre uma auréola laranja, mais tarde violenta. Sinal de mudança de tempo. O mar eleva-se sobre a terra, pontilhado de espuma branca.
Gonçalo Tocha
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