“Desde que lembro sempre tive particular interesse por Literatura, Geografia e História. Fiz estudos de Sociologia e, apesar de pouco praticar a disciplina, no sentido estrito do termo, considero que foram anos de formação muito interessantes e importantes. Vivi sempre rodeado de Fotografia, por responsabilidade do meu avô materno. Porém somente aos 27 anos emergiu o meu interesse. Desde então, tenho desenvolvido alguns projectos de cariz pessoal, que vêm sendo mostrados ao público desde 2002. Se tivesse que definir o grande móbil da minha fotografia, diria que esta se debruça sobre a relação do Homem com o espaço físico, sobre as formas de apropriação dos territórios, quer no sentido material, quer no sentido simbólico. Interessam-me a obra física, o modo como esta actua sobre a Natureza, mas também os afectos que o ligam a determinado espaço. Interessa-me principalmente o modo como eu, enquanto ser humano, interajo com o mundo físico e emocional que vou habitando. Porque, para mim, a fotografia é um meio de auxílio à interpretação do mundo que me rodeia. É uma fotografia profundamente enraizada no real. Se tivesse que lhe atribuir um nome, talvez lhe chamasse “fotografia documental pessoal”. Porque é realmente fotografia documental, mas são documentos pessoais, muito ligados à minha experiência do mundo. Os meus “assuntos fotográficos” são temas que me são próximos. Não obrigatoriamente pela distância física – ou a sua ausência – mas pelo facto de me serem sensíveis; pelo facto de, de algum modo, se ligarem à minha existência; às minhas experiências, às minhas crenças e valores. À minha visão do mundo. A fotografia leva-me a sair, a ir ao encontro do mundo, mas também me ajuda a reflectir sobre mim. Como se nos locais e nas pessoas que fotografo, e para os quais olho mais tarde, encontrasse sempre algo de mim mesmo.”
Gonçalo Fonseca
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